terça-feira, 15 de julho de 2014

VELHINHA

VELHINHA
 
Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim: ...
"Já ela é velha! Como o tempo passa!..

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...

Florbela Espanca

VELHINHA  

Se os que me viram já cheia de graça 
Olharem bem de frente para mim, 
Talvez, cheios de dor, digam assim: 
"Já ela é velha! Como o tempo passa!..." 

Não sei rir e cantar por mais que faça! 
Ó minhas mãos talhadas em marfim, 
Deixem esse fio de oiro que esvoaça! 
Deixem correr a vida até ao fim! 

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha! 
Tenho cabelos brancos e sou crente... 
Já murmuro orações... falo sozinha... 

E o bando cor-de-rosa dos carinhos 
Que tu me fazes, olho-os indulgente, 
Como se fosse um bando de netinhos... 

Livro de Mágoas – 1919

In “Sonetos de Florbela Espanca ” 
Colecção Autores Portugueses de Ontem
Edição da Livraria Estante – Junho.1988

Florbela Espanca

Sem comentários:

Enviar um comentário